sábado, 6 de agosto de 2016

Redescoberta

Faz um tempo, tenho vivido à luz de minha própria sombra. Sem saber o que fazer; sem saber para aonde ir. Fico frustrada, ansiosa para me libertar desta fase de isolamento e recolhimento. Mas, não é o momento. Não estou no momento de decidir nada, de fazer coisa alguma se eu não quero. Se eu não quero fazer. Simplesmente porque não posso me forçar a acelerar o rumo das coisas se eu não consegui digerir tudo que me aconteceu; tudo que estou sentindo. A tristeza me encontrou quando eu menos esperava. As descobertas e as dúvidas vieram para me dizer que eu não sei tudo. Que nem tudo vai acontecer como eu quero ou quando eu quero. Talvez leve um tempo... talvez este tempo nem mesmo chegue. No entanto, aqui estou eu, mergulhada em nostalgia e angústias por não saber o que eu devo fazer. Uma vez, disseram-me que mesmo a falta do saber é um caminho escolhido, pois nem sempre temos a capacidade de decidir por nós: às vezes, é melhor deixar que o tempo aja e nos traga as respostas para as nossas dúvidas. Aprendi que não sou uma máquina com dois botões. Vou além do "sim" e do "não". As dúvidas são como o caminho do meio de Buddha; elas vêm para mostrar que há luz na escuridão e que há escuridão na luz. Ao contrário do que se pensa, as dúvidas são aliadas e grandes parceiras dos novos desafios, porque o medo do desconhecido nada mais é do que a dificuldade em decidir. Reconheço que, à luz de minha própria sombra, tenho aprendido muitas coisas e refletido sobre muitas outras. No entanto, não me venha dizer que tenho prazos para decidir pelo "sim" ou pelo "não". Eu não quero e nem posso decidir nada no momento, simplesmente porque não é o momento. O momento, agora, é de silêncio. Prefiro que o tempo me mostre o caminho. E, enquanto isso, vou caminhando para um caminho incerto, com tudo que estou sentindo, sem jogar fora os sentimentos sombrios que residem em mim. Só não quero que me forcem a decidir pelo "sim" ou pelo "não", pois o que está em jogo no momento é o momento mais magnífico da minha vida: o da redescoberta.

terça-feira, 29 de março de 2016

Relações Portaria x Solo de Guitarra

Sinto muito em dizer, pois eu sinto em saber que está faltando um solo de guitarra em nossas vidas.
Isso mesmo: um solo de guitarra. Um solo de guitarra é um momento intenso e singelo, em que nossas emoçōes, sentimentos e pensamentos estão à flor da pele - nós nos debulhamos em lágrimas e vivemos, intensamente, absortos naquela melodia musical.
E, sim, estamos sóbrios. Não estamos bêbados, não estamos procurando uma válvula de escape. Simplesmente queremos viver o momento, ao vivo e a cores; lúcida e verdadeiramente. O que sinto, porém, é a ascensāo desenfreada do que eu chamo de "relações portaria".
As "relações portaria" são as relações efêmeras que desenvolvemos com as pessoas, de forma cada vez mais frequente e abundante. Não temos mais tempo para fazer visitas e apreciar o cafezinho fresquinho sendo jorrado naquela xícara especial para o convidado da tarde. Não. Hoje mandamos o recado pelo porteiro ou, simplesmente, passamos na portaria e deixamos nossa "lembrancinha de aniversário", nossa "presença enrustida".
Pois a Presença (com P maiúsculo), sinto dizer, é algo envolvente, algo quente. É o olho-no-olho, é o abraço apertado, os beijos de saudade e a manifestação do corpo, da alma e do espírito ao vivo, aqui e agora. Eu sinto falta da Presença, embora esteja começando a entender que na maior parte de meu tempo estive ausente em muitas coisas. E hoje, estou plena, estou Presente na minha vida.
Peço, de verdade, que se permitam ouvir um solo de guitarra. É fascinante! Eu ouvi muito - e ainda ouço - e continuarei ouvindo por muito, muito tempo. É um amor de alma. É de coração. Eu espero que não seja tarde demais para começarmos a mudar este paradigma insosso e superficial no qual estamos, tristemente, inseridos.
Que não seja tarde demais para descobrirmos que podemos ser muito mais do que servidores do comportamento ausente, egoísta e frágil de nossos tempos modernos "globalizantes". Que consigamos transpor as barreiras limitantes do medo, da insegurança e da falta e construamos relações de amor, de afeto, de carinho e não relações portaria ou porcaria, se assim posso dizer.

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2016

Aceitação

Não. Não agora. Não depois de tudo que aconteceu. Antes da ansiedade me matar, eu a matarei. Não vou deixar que esta dosagem a mais de sofrimento ansioso leve tudo por água abaixo. É difícil controlar a ansiedade, é verdade. Mas, mais difícil ainda é adotar uma postura de resiliência - parece que a submissão pela ilusão do medo é sempre maior.
Percebi, pelo menos, que não dá mais para ficar no mesmo lugar: ou eu habito um lugar de suavidade no meu coração, ou eu viverei uma eterna fantasia. Exatamente. Fantasia. Sofrer e não aceitar que algo precisa ser mudado é o mesmo que permanecer desperto em um mundo fantasioso. Ninguém está aqui para não viver senão a realidade que, há muito tempo, habita em nós. E a realidade é uma só: o instinto de mudança rumo a um lugar sagrado, de paz, de comunhão com o próximo.
Todos merecemos o caminho da felicidade e é o único caminho verdadeiramente possível para vivermos realmente. O resto nada mais é do que uma criação utópica do que seja felicidade. A felicidade não é e nunca foi algo utópico; do mundo das princesas da Disney. Ela já existe e está a sua espera desde sempre. Ela só precisa que você olhe para ela dentro do seu coração.