Quando olhava em volta, mil pensamentos a tomavam por completo. Mas, quando olhava fixamente, não renunciaria o que via, o que sentia. Não sabia, afinal, que ela era passiva de emoções, mesmo se tentava resguardá-las. Não gostava de falar muito de si mesma para os outros; procurava naqueles o calor humano que tanto precisava para se aquecer nos dias frios. Mas, era calada. Tão quieta que falava o tempo todo; observava o comportamento de seus amigos, colegas, pessoas do além. Por que tudo lhe parecia estranho? Pensava. Se esticava toda no chão gelado, ficava a se alongar; se esgotava. Chorava escondido também. Porém, quando se emocionava, sempre compartilhava: gostava de contar aos entes queridos suas surpresas, conquistas, vitórias. Sorrisos. Esbanjava sorrisos sinceros algumas vezes. Forjava caretas, posturas, comportamentos que lhe ajudavam no cotidiano. Todavia, gostava de escrever e ouvir música. Jamais fora infiel a esses dois empecilhos artísticos... Empecilhos porque, durante toda sua vida, seus maiores desafios sempre foram emancipação ao escrever e sentir do fundo do coração todos os sentimentos e emoções aos quais estava sujeita à flor da pele: desde o som aromatizante das teclas de um piano às batidas imprevisíveis, impetuosas e oscilantes de uma guitarra. Por isso, odiava e amava a música em dois tempos: era a única que conseguia ler seus pensamentos, aspirações, sentimentos. E isso, lhe doía às vezes: desligava o rádio com pudor.
Com tanto constrangimento embutido, desinibia-se ao escrever: admitiu, por fim, sua falta de desprendimento ao decretar seus textos.