O frio da barriga do vento da rua da loja de tudo. Frio em todo lugar. Em tudo que é lugar. Em todo, me envolvo envolta por militantes frios. Frios. Friorentos. Casaco? Cadê? Sei lá eu. O frio que atinge o pescoço, formiga os pés, as mãos, o bumbum, congela o nariz, prende em casa. Presos. Agora, sob as cobertas quentes que lhe confortava. Ou não. A vontade de fazer alguma coisa era tão grande quanto a preguiça que impedia. E, todavia, nem mesmo a vontade e a preguiça eram consideradas inimigas. A vontade era grande, mas a preguiça lhe emanciparia. Voo grande, que abrange os horizontes. E de repente, o frio tornava-se bom, quente, caliente, nos consumia, nos resguardaria em um dia frio. Passava a cabeça na mão, respirava inspiração autônoma, de credibilidade a sim mesma. Só estava feliz de poder compartilhar banalidades impensáveis, nem ela mesma sabia o que fazia ali. Naturalmente, o frio lhe contentava como poucos. Podia desfrutar de um momento a sós, de um chocolate quente com bolachinhas de nozes. Unhm! Lanche delicioso! Grátis! Com direito à gordura trans e tudo o mais. Quer saber? Ela engordara sua vida. Fê-la mais saborosa. Mais vibrante e irradiante. Mais intensa e vívida... Ela esquentava no frio, mesmo sem casaco. Até que gostava de um certo conjunto moletom da gap cinza. Mas hoje, vestiria um casaco rosa, ironicamente da gap: tudo que ela precisaria nesse frio era dar um intervalo pra vida. Preguiça.
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