terça-feira, 24 de janeiro de 2012

Mãe, chega mais!

- Mãe, o que está fazendo?
- Nada, filho. Estou apenas pensando.
- No que?
- Não é da sua conta. Vá brincar, garoto. Daqui a pouco te chamo pra jantar.
Alex foi para a varanda do seu quarto e por ali ficou sentado acariciando seu cachorro.
- Sabe, Tory - olhou para o cachorro - a mamãe anda tão estranha ultimamente. Eu não entendo ela. Às vezes só quero ajudar, mas parece que acabo atrapalhando. Ela me acha muito moleque ainda...
O cachorro nada fazia, apenas cheirava o perfume das lindas orquídeas brancas da sacada.
Alex fitava tristemente o cachorro e continuou:
- Você é tão útil pra ela. Mamãe nunca reclama de você, impressionante! Você suja a sala toda, faz xixi no tapete, late, lambe e dorme. E ainda por cima, acorda todo mundo nas madrugadas de feriados. Corpus Christi, lembra? Não podíamos ir direito pro centrinho só pra ficar na sua pele. E você ainda se faz de coitado...
- Alex, vem jantar! - chamou a mãe.
- Não tô afim, nã...Não vou! - exclamou emburrado.
- A comida vai esfriar! Se você não vier, não vamos ir no cinema! - replicou.
- Tá, tá bom. Tô indo.
O menino sentou-se à mesa com a maior discordância e inconformidade. Estava esperando que a mãe se desculpasse pelo silêncio que criara naquela casa. Mas não foi como desejava ser. Nunca fora. Mesmo sem o pai ali, a mãe arcava com tudo. Era como se fosse mãe e pai ao mesmo tempo.
- Mãe, esta sopa tá fria e horrível! Você realmente não sabe cozinhar. A comida da vovó é melhor, muito melhor!, disse insensível.
- Basta! Não vamos mais sair! Você vai ficar preso no quarto e eu não quero saber. Ou você me obedece ou vai pra rua! - gritou descontroladamente.
- Por que? O que eu fiz? - perguntou indiferente.
- Você? Nada! Sou eu! Eu sou o problema desta porcaria de casa!
- Menos o Tory, né mãe? Eu acho melhor eu sair daqui, o Tory vai te entender melhor do que ninguém, não é mesmo? - provocou o garoto.
- Ele me respeita.
O silêncio finalmente se quebrara. Talvez era esse o segredo de sua mãe. Um dos segredos mais difíceis de serem contados ou até mesmo compreendidos.
- Mas eu também te respeito, mãe. Eu só queria que confiasse em mim! - choramingou Alex.
- Nunca disse não confiar em você, filho. Só que de vez em quando, a mamãe precisa ficar um pouco sozinha, entende?
- E de vez em muito, preciso de você, mãe. Me sinto só muitas vezes. Meus amigos foram todos em um acampamento lá em Barra Bonita.
- E por que não foi, Alex? - perguntou a mãe, curiosa.
- Ah, sei lá...Não queria te deixar sozinha, sabe...Você ia ficar bajulando o Tory e nem ia sentir minha falta. Por isso que quis ficar.
O menino sorriu e concluiu:
- Vai me dizer que você ia conseguir ficar aqui sem eu te enchendo a sacola?
A mãe, não acreditando nas palavras do menino, gargalhou como nunca:
- Tá bom, filho. Bora pro cinema!



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