terça-feira, 19 de fevereiro de 2013

Carnaval: a festa que todos querem


Por Juliana El Taouil Azar

Sempre me disseram que o Brasil é "O País do Carnaval". Não poderia discordar disso nunca, afinal, eu, Dorivaldo dos Santos, aos 54, não vivencio outra coisa. As festas carnavalescas são uma maravilha; carros alegóricos buzinam na Sapucaí, transpassam dezenas de máscaras apurpurinadas, extravagantes, assim como os próprios personagens que se escondem detrás delas. Pessoas, turistas, crianças, jovens e idosos de todos os lugares, não perdem a chance de desfilar ao menos uma vez na vida na cidade do Redentor. É uma experiência tão única, que muitos se emocionam, inclusive eu, que moro no Rio há mais de trinta anos.
O Carnaval Brasileiro é tão inspirador quanto às vestimentas exóticas que cobrem os corpos quase nus das musas brasileiras. Nessa festa, o que não falta é beleza. Esperança. Amor. Alegria. Os brasileiros são muito otimistas, felizes quando desfilam pelo Brasil e para o mundo. Nós, nacionalistas e com orgulho, somos requintados; esbanjamos luxúria no Carnaval. Rimos, choramos, conhecemos novas pessoas, fazemos novos amigos: tudo é festa pré-quaresma. Parece que o Brasil é um país abençoado, cheio de gente iluminada: negro, pardo, branco, índio, todos têm seu lugar na Avenida. Ninguém é discriminado. Ninguém é maltratado, condenado, julgado. Todos são iguais. No Carnaval, há espaço para cada um. Só que no País Tropical, a realidade não se reveste de fantasias ou alegorias.
O Brasil afora é outro universo. Não são muitas as pessoas que passarelam por aí. Não há, sob hipótese alguma, mil, milhões, trilhões de corpos que desfrutam de uma boa vida, minimamente de forma confortável. No Brasil, há muito sofrimento diário, há muita pobreza. Um país tão rico, tão exuberante em natureza, dá as caras ao início dos anos, camuflando-se no restante dos meses. Tanta beleza, maravilhosidade, desperdiçadas. São tantas as almas que poderiam usufruir de uma vida melhor, porém turbilhões morrem diariamente de fome. Desgraça. Violência. Homicídio. Todo o gasto implantado é pouco para suprir mais de dois terços do país. Mas, enquanto isso, nos vangloriamos e festejamos o Carnaval... não que não goste disso, ao contrário: amo nossa festa. Só acho que os valores estão trocados.
Digo isso, porque o Brasil é o País do Carnaval. Por que todo mundo não pode participar de nossa festa? Pois, enquanto se investe pouca grana em infraestrutura, saúde, leitos hospitalares e transportes, no Carnaval são depositados todos os votos de sucesso e prosperidade. O Governo, ao invés de atrair admiração, subtrai incontáveis vidas. Um país que tem tudo para crescer acaba desperdiçando sua grandiosidade e desrespeitando à tão "pátria amada" que ouvimos falar. Mas, nada importa perante uma grande festa que fazemos anualmente: parece que nosso país se limita ao tão almejado Carnaval.
Somos tão conhecidos pelas festas carnavalescas, bundas semi-nuas, brasileiras carnudas, que até mesmo deformamos o verdadeiro valor dessa época comemorativa: a verdadeira festa é aquela que dura todo dia; é visível à olho nu. Se aqui no nosso país houvesse Carnaval todos os dias, jamais encontraríamos pobreza. Mas, infelizmente, nosso Carnaval tem prazo de validade; a vida das pessoas, não.





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