domingo, 14 de dezembro de 2014

Desa(Sossego)

Guardara uma estrela em sua memória. Seu brilho era tão intenso, que toda vez que abria a janela, se deixava ofuscar e dispersar em mil e um pensamentos. Deveria parar. Nenhum vício é bom, muito menos ficar preso a si mesmo. Não queria ficar atordoada a sós: por vezes, sua mente era um lugar escuro, onde era possível se perder diante da sensibilidade ingrata e apaixonante da lua.

Ah, a lua... ela era sinistra - era um elo entre sua mente e seu coração. A lua a desesperava, pois era enigmática demais, assim como tudo que vinha e preenchia aquele des(encanto) de menina. Por isso, tinha um medo prazeroso de encarar a vida em toda sua magnitude.

E por mais que doesse a inquietude de sua alma, sentia uma necessidade de se recolher junto às montanhas tibetanas e voar pelo céu com seus mil e um pensamentos.

segunda-feira, 6 de outubro de 2014

Apassarei

Vocês perderam o gosto pelo verdadeiro... me deixaram no mar à toa, vislumbrando a paisagem que mergulhou em mim. Não sou mais eu. Não sou o eu; sou o todo. Faço parte de uma imensidão, onde só observo o sol raiar, a chuva cair, o vento soprar, o amor renovar.

Eu não me tenho e não me pertenço. Não tenho um lugar, na verdade. O lugar me procura antes de eu chegar lá. Escrupulosa, sempre continuo navegando por águas profundas, as quais sem não sou ninguém. Nunca fui alguém. Não tenho nome. Sou um registro do passado, o cerne do futuro, o presente do incerto. Meu nome tampouco me importa, se nada me importar. Eu quero chegar, então, à lua, abraçar seu brilho e ser altruísta das carícias da vida.

Quero um amanhecer só pra mim. Quero uma rajada de ventos que perfure meu peito e faça meu coração sorrir. Quero ventar como nunca antes.

Quero ser um pássaro com longas asas, um vôo tranquilo e um canto próprio.

domingo, 28 de setembro de 2014

O Mendigo André



Conheci André com 13 anos. Era o mendigo mais popular da Avenida Jurema, para não falar de Moema. Nesse canto da zona sul, André vagava para lá e para cá com seu bigodinho sujo e bem característico de seu rosto. André era baixinho, pretinho, falava gaguejando, cuspindo. Era engraçado. Parecia de bem com a vida, mesmo morando na rua.
Lá na Avenida Jurema, em cujas calçadas árvores diversas adornavam o cenário, tinha o supermercado referência de moema: Emporium São Paulo. E bem ao lado do supermercado, tinha o Marildo Cabeleireiros, cujo dono era de mesmo nome. Exatamente nessa área, nesse quarteirão que o mendigo André mendigava seus dias, conversava com quem passava, sempre segurando um saco de lixo na mão direita e coçando o pau com a esquerda. André era demais. Falava sozinho, mesmo sendo para lá de "extrovertido" e engraçado.
Passei parte de minha adolescência observando o que o pobre do André fazia em Jurema, afinal, como morava (e ainda moro) na Avenida Jandira, que, por sinal, é pertíssimo da Jurema, ia à pé para lá para fazer compras no mercado. E sim: André sempre estava lá, vagando, com seu bigodinho e seu saco de lixo, falando com Deus e com o mundo. Falando asneiras, baboseiras. Sorrindo um sorriso banguelo, cheio de felicidade. Felicidade de pobre. Um sorriso que contagiava os que já o conheciam, inclusive o barbeiro Marildo, que, um dia, pegou André à força para cortar-lhe a cabeleira suja e cheia de piolhos. Pois não é que o mendigo era pop naquela zona nobre da Grande São Paulo?
André certamente era o mendigo mais popular e carismático de Jurema. André era uma figuraça já! Até o dono do Emporium São Paulo já brincava com ele, chamando-o de "gostosão"! Quem diria, ou melhor, onde já se viu um mendigo causar tanto? Nunca vi... e há muito não vejo. André desaparecera há dois anos. Nunca mais pude ver aquele que tanto foi motivo de risada, de zombação. Afinal, adorava assistir ao André e às coisas que ele fazia. Ele era motivo de alegria. Pelo menos, aos moradores de Moema que o viam, o conheciam e já haviam trocado alguma palavra com ele um dia, porque aquele mendigo era cheio-de-graça, sempre com sorriso estampado no rosto desgraçado.
Ah, como sentia falta dele! Quando vou ao supermercado, não o vejo mais. Aquela rua simplesmente se desalmou. Desamei-a. Porque antes, eu amava aquele canto de Moema, amava ver o André, fazer compras era meu hobby! Mas, hoje... hoje é por acaso. Por acaso faço compras, passo por ali. Aquele lugar ficou indiferente a mim. Não vejo mais graça. Às vezes, dá a impressão de que até o Emporium São Paulo perdeu grande parte da clientela da época do mendigão. Parece que as calçadas ficaram mais vazias. Nunca mais veria a cena do dono do Marildo Cabeleireiros puxar o André para um corte de cabelo. Foi épico!
Se bem que esses dias, por acaso, estava indo ao Emporium São Paulo, quando me deparei com André brincando com um cachorrinho na frente do supermercado. Meu coração disparou! Saudades daquele homem! Onde andava? Não tive tempo para mais nada, coloquei meu braço sobre seu ombro e sussurei:
- Ah, que saudades, André!

sexta-feira, 22 de agosto de 2014

Mar de confissões

Não quero que meu medo seja maior do que minha força de vontade para criar e realizar sonhos. Não quero viver contida em pensamentos e energias obscuras que sublinham minha mente. Não quero. Cansei. Quero ser alguém livre, com sorriso largo e aberto, pronta para viver de forma plena, desconstrangida, viva! Quero ser o sol da minha vida, a lua dos meus desejos e a estrela dourada do meu céu de virtudes, inseguranças, certezas, vivências. Quero viver. Quero me permitir viver e ser feliz. Quero me doar ao próximo e erguer a mão a quem precisar do meu aconchego, do meu carinho, da minha gratidão. Do meu amor. Quero ser amor pro resto dos meus dias. Quero iluminar e ser iluminada. Quero ter ternura e força. Quero viver. Quero viver sabendo o que é a vida. E sua imensidão.

terça-feira, 12 de agosto de 2014

Integração

Arte, filosofia, ciência e religião são os quatro campos a serem desenvolvidos pela sociedade a longo prazo. No entanto, enquanto houver desintegração e dissociação entre essas esferas que moldam o conhecimento alheio, haverá guerra e infortúnios. É imprescindível, ao contrário, o complemento das diversas áreas que compreendem nossas vidas, afim de termos uma formação holística sólida, de fato. Afinal de contas, a felicidade só é possível se integradas as diferenças e suas respectivas nuances.

sexta-feira, 11 de julho de 2014

Linhas Tortas

Tantas coisas acontecem que penso em tudo que deu errado.
Tudo que deu errado e que eu queria consertar.
Tudo o que eu queria era realizar tudo que desejo.
Com ambição, força e perseverança.
Tudo o que eu quero é que o errado seja o certo.
E o certo seja sempre aceitar.
Que Deus escreve bem em linhas tortas.

quarta-feira, 25 de junho de 2014

Determinação

Cansaço. Uma das piores coisas que existem é se sentir cansado, impotente, com preguiça de fazer tudo. Estou me sentindo assim, desde o período em que fui diagnosticada com hipotireoidismo no começo deste ano.
É muito ruim este estado físico e, mais ainda, emocional. Encontro-me frágil diante dos desafios, um tanto tonta também. Preciso, entretanto, achar forças para me reerguer e lutar por meus sonhos. Mais do que isso, preciso de coragem e determinação.

domingo, 8 de junho de 2014

Des(almado) e armado

Vejo quanto brilho e tristeza há por dentro destes olhos. Por que camuflar-se sob um aspecto repugnante e amedrontador? Quando, se precavido, poderia emancipar-se de toda energia negativa que oculta o amor intrínseco à grandeza de sua alma.

quinta-feira, 24 de abril de 2014

Pretérito Imperfeito, literalmente

Digo, com veemência, que sinto saudades. De um tempo que não volta.
Seria a depressão, como um todo, ruim? Se é ela mesma que me faz reviver momentos, cair na nostalgia de bons tempos que, até então, perpassavam por mim despercebidos?
Sempre pecamos, é incrível...
Nosso pecado é justamente este: deixar o tempo passar sem passar antes por ele.

domingo, 6 de abril de 2014

Implacável

Eu escrevo aqui, porque aqui é meu recanto. Meu recinto das palavras. Aqui ninguém me fará sofrer, porque de mágoas já bastam as lágrimas que jorram de meu peito. Queria palavras tenras de mãe, embora críticas se fazem necessárias, às vezes. Mas não queria isto: não queria tantas brigas, tantos desgastes. Não queria sentir um vazio constante. Não queria que as coisas fossem assim. Mas, também, quem disse que sairia viva de minha própria utopia?

quarta-feira, 26 de março de 2014

Jamais

deixe de escrever.
 Este é o único legado que deixamos quando morremos: a arte de expressar, por meio de palavras, o que nunca conseguimos dizer com o nosso corpo.

terça-feira, 18 de março de 2014

Jornalismo Afobado


Que o universo de produção jornalística exerce imensurável influência no cotidiano dos cidadãos do mundo inteiro, já não é novidade. No entanto, e cada vez mais, a prática do jornalismo consegue surpreender a todos com seu poder soberano e avassalador no âmago das sociedades contemporâneas: os mediadores das comunidades, - também chamados jornalistas -, vêm concretizando, de fato, o status de legetimadores dos acontecimentos sociais, por meio das diversas mídias que empreendem seus trabalhos. 
Jamais houve na história tamanha dependência com os meios de comunicação. Se os jornais impressos, a televisão e o rádio, já eram artefatos jornalísticos fomentadores da opinião do público, com o advento da Internet, então, os espectadores se viram obrigados, a velocidades estarrecedoras, a não mais formar opiniões, mas consumir um grande número de informações em escalas de tempo cada vez menores. Tais escalas enxutas são concomitantes com o novo trabalho do jornalista na Internet: a produção de notícias online e em tempo real. 
Assim, se nas mídias tradicionais, como em jornais, há mais tempo para a apuração e produção de notícias até o final do dia, nos portais virtuais, por outro lado, o jornalista tem de encontrar os furos de reportagem e as novidades em tempos minuciosamente estipulados e fragmentados para, em seguida, inserir na Internet essas mesmas novidades no tempo e hora que se sucederam com total exatidão. O imediatismo, intrínseco a essa nova forma de produção jornalística, gerou, no entanto, resultados não muito positivos no que concerne ao elo produtor-receptor de notícias.
Pois, o jornalista, pautado por um tempo ínfimo para finalizar uma matéria para a Internet, acaba se sujeitando, fatalmente, aos erros de apuração e veracidade jornalísticas. Como saber se aquela notícia é, de fato, verdadeira, considerando a agilidade com que foi abordada? Da mesma maneira, será que a população averigua se essa ou aquela informação é verídica ou não? As respostas a essas perguntas podem ser perfeitamente ilustradas, aliás, no documentário Abraço Corporativo, do jornalista Ricardo Kauffman. 
O personagem principal, Ary Itnem, é consultor de RH e representante da Confraria Britânica do Abraço Corporativo na América Latina. Com sua "teoria do abraço", o consultor tenta resolver a problemática da "inércia do afastamento", - resultado da carência de relações interpessoais nas empresas, devido ao excesso de tecnologias, - ao dar abraços nas pessoas que vê pelas ruas. Itnem, no entanto, é um falso consultor que trabalha em um grupo forjado, e a ideia de Kauffman era justamente esta: verificar se o impacto do personagem, que rendeu milhares de visualizações no youtube com seus free hugs, seria alvo das pautas jornalísticas.
E, de fato, foi. Nomes importantes do jornalismo como Heródoto Barbeiro acreditou cegamente no suposto consultor. Jornais como O Estado de São Paulo e O Globo foram alguns que noticiaram o caso como verdadeiro também. A partir da grande repercussão que Itnem causou nos grandes veículos de comunicação, nada mais justo do que representar a fragilidade da apuração e credibilidade jornalísticas em forma de filme: Kauffman quis mostrar, com sagacidade, o quanto as instituições jornalísticas carecem de profissionais experientes e aptos a discernir informações falsas das verdadeiras.
Além disso, há um fator proeminente que deve ser levado em consideração, - o jornalismo do espetáculo. Fazendo alusão ainda ao personagem Ary Itnem e a sua "história" impressionante, os jornalistas, juntamente com sua ingenuidade profissional, acreditaram na teatralização do falso consultor, pelo poder de persuasão e verossimilhança das cenas criadas. Desse modo, ao invés dos pauteiros checarem e rechecarem a veracidade, bem como a validez daquele desdobramento, optaram por divulgar um acontecimento que, aparentemente, pelo conteúdo imagético forte, lhes pareciam reais. E, hoje, nas sociedades capitalistas, a espetacularização de uma notícia equivale dinheiro.
Ou seja, os jornalistas vislumbraram, também, o quanto poderiam lucrar ao fazerem uma cobertura sobre o abraço corporativo. Afinal, é um tema inusitado que, além de acoplar entretenimento à curiosidade, possui tanto relevância pública quanto relevância do público. Resta saber, agora, qual será o futuro, definitivamente, do jornalismo: atender às grandes demandas populacionais com informações mal apuradas ou propagar informações com abordagens mais profundas, mais limpas, coesas e verdadeiras em seu entorno?
No mundo das tecnologias digitais, onde tempo é dinheiro, é cada vez mais difícil (re)estabelecer a ordem e a prudência dentro da redação e assessoria de imprensa, - cuja demanda de informação é tão grande quanto o tik tak acelerado do relógio. Não obstante, vale o otimismo do melhoramento e o incremento da prática jornalística que caminha, paulatinamente, sobre trilhos ainda desconhecidos de uma era tão turbulenta como o século XXI. 

quinta-feira, 6 de março de 2014

O tempo pautando os pauteiros

Por Juliana Taouil

But time, keeps flowing like a river (on and on)
To the sea, to the sea

"Mas o tempo sempre flui como um rio (sem parar). Para o mar, para o mar". Esse é um trecho da música Time da banda de rock progressivo inglesa The Alan Parsons Project. E, talvez, esses versos nunca fizeram tanto sentido quanto agora, em nossas sociedades hodiernas: o tempo, cada vez mais, escorre de nossas mãos em uma velocidade tão estupenda que, se não o agarrarmos com imediatismo e, ao mesmo tempo, com intensidade, ele se vai em um piscar de olhos.
É sobre este caráter efêmero do tempo que Vicente Romano Garcia, doutor em Comunicação Social pela Universidade de Münster, discorre em seu texto Ordem Cultural e Ordem Natural do Tempo. Segundo Garcia, vivemos um verdadeiro paradoxo vigente já no século passado. Se antes dispúnhamos de extensas e longas horas para trabalhar para o patrão, cujo tempo ocioso era notoriamente pífio, no mundo atual, por outro lado, dispomos de uma carga horária de trabalho muito mais enxuta, mas não menos sufocante, pois, apesar de hoje termos mais tempo "livre" para realizarmos outras atividades, essas acabam sendo pautadas pelo tik tak do relógio que, cada vez mais, nos mecanizam, sob a ordem social do tempo.
Ficamos, dessa maneira, extremamente dependentes de artefatos mediadores de tempo, - nossas vidas, mais do que nunca, jamais lograram postura mais submissa às novas mídias sociais como a Internet, para citar um exemplo. O desenvolvimento e incremento dos meios de comunicação se fazem intrínsecos ao processo de aceleração do tempo, como comentou o autor, "Na sociedade da alta velocidade o tempo mesmo se converte em objeto de aceleração" (GARCÍA, 2002). Por isso, como explicou o espanhol, estamos sujeitos à uma sobreposição de tarefas, como consequência desse tempo devorante e, não menos, devorador dos homens.
O ofício de Jornalista, aliás, é um exemplo ilustrativo desse novo panorama social e cultural do tempo: se há vinte anos ainda predominavam as mídias impressas e tradicionais como os jornais, hoje em dia, com o advento da Internet, os jornalistas tiveram de se adequar às rápidas velocidades inerentes a essas plataformas virtuais, cujas características centrais são a disseminação de conteúdos online e em tempo real. Assim, os mediadores de nossos tempos, vulgo jornalistas, se viram obrigados a propalar e a divulgar notícias nas "telinhas" dos monitores no menor tempo possível.
Essa condição imposta a esses profissionais gerou, no entanto, em resultados não muito positivos. Afinal, o jornalista (típico dos jornais), acostumado à produção de notícias de forma mais paulatina do que aquelas inseridas no portal virtual, teve de agilizar seu trabalho, bem como a apuração dos fatos a fim de inteirar o espectador sobre as últimas e mais frescas novidades do dia. E esse novo fazer jornalístico, de certa forma, é muito mais suscetível aos erros de apuração, - devido à pressa e ao curto período de tempo de propagar a notícia pronta à tona -, e cujo caráter perecível acaba sendo recorrente, na maior parte das vezes, da abordagem superficial que é dada à matéria típica da Internet.
Portanto, o tempo acaba sendo fator primordial e o ponto-chave de nossas vidas e cuja força pode ser visivelmente notada em áreas como a do Jornalismo: somos, em um ritmo abrangentemente asfixiante, tomados pelo tempo que, cada vez mais, nos obriga a realizar um número grande de atividades diárias no menor intervalo estipulado. Tornamo-nos, finalmente, escravos de nosso próprio tempo quando, na verdade, deveríamos nos emancipar de seu caráter impositivo e uniforme.
Vale, então, a reflexão decorrente desses novos processos socioculturais e socioespaciais que vêm alterando as percepções humanas sobre o tempo e sua própria condição de existência: como atrelar, bem como propõe Garcia, de forma saudável o tempo do relógio a nossas vidas, sem nos sentirmos prisioneiros dele? Ainda fazendo alusão à profissão de jornalista, e a Carlos Alberto Di Franco em seu artigo Jornal, Qualidade e Relevância publicado em 03/03/14 no Estadão, "O jornalismo impresso deve ser feito para um público de paladar fino e ser importante pelo que conta e pela forma como conta. A narração é cada vez mais importante." Assim como a narração é importante, tão mais relevante seria se aproveitássemos o tempo que temos em sua totalidade e intensidade,  não nos servindo como míseros seres correndo apenas contra ele, mas, sim, indivíduos que narram suas histórias através dos tempos.

terça-feira, 25 de fevereiro de 2014

O Anjo e a esperança


Como era bela a música em sua vida. Tão leviana, dançava como uma criança. Seus olhos esverdeados que no escurecer da noite nada mais eram que resquícios de uma vaga lembrança da simulação de uma dança. Suas mãos aconchegantes faziam jus ao retrato que pendurava em seu quarto: o rosto de uma bisa que a enlaçava com ardor falando palavras de amor. Ai da menina que sempre dançou às escondidas com certo rancor. Nas sombras se recostava e emulava consigo mesma a simples aceitação de seu ser: "deixe estar, sinhá!

sábado, 1 de fevereiro de 2014

Inconsistências Diárias

Estava farta das pessoas que se faziam de vítima. Queria pôr um ponto final na história. Mas, era mais difícil do que se esperava... gostava de falar em público, conversar com os amigos mais próximos, ser extrovertida quando cercada de boas intenções. E, quando pisavam na bola... era, sem dúvidas, algo constrangedor. Como as pessoas podiam ser repugnantes, às vezes, pensava. No entanto, não conseguia bater de frente com a mesma indiferença de outrem. Gostava, na verdade, de ser ela mesma, não lhe agradava a ideia de seguir a maré. Talvez, era por isso que se sentia raivosa. Já não bastava mais ouvir sua mãe: não dava certo. Porque era do tipo que batia de frente... sempre foi cabeça dura, sempre parecia atropelar tudo e todos.

Ela era assim, uma pentelha. Roqueira, metida a esperta, com personalidade extravagante e sempre com um pé atrás. Compulsiva. Isso, compulsiva. Todavia, não conseguia, quiçá, expressar tudo que sentia. Já era demais para a garota. Por isso, seu maior desafio era este: se desprender por entre as páginas que jorrava lágrimas de compaixão pela escrita. Afinal, era uma comunicadora. Não precisaria ficar tão tímida, aliás, de tímida não tinha muito. Era resguardada, o que é diferente de ser tímida.

Parece mesmo que adorava se fazer de vítima! Por que ser cerceada por si própria de sua liberdade de expressão e de dizer tudo que pensa sobre o mundo contemporâneo? Talvez porque ela sempre quis ser rebelde, a politicamente incorreta, fugindo dos dogmas e doutrinas de nossa sociedade. Pois, quem disse que a transparência é o crachá dos autênticos? Às vezes, sentia que os valores estavam invertidos... Parecia mesmo que tudo havia sido banalizado pelo mundo globalizante (isso mesmo, globalizante. A influência de algumas poucas potências sobre a maioria dos países, ou melhor, dos demais países).

Estava cansada. Muito mesmo... de tudo e de todos. Mas não: ela não era vítima de nada, ela também era mais uma dentre milhões de rostos desconhecidos. Por isso, se rebelava... era insurgente, intolerante. Queria voar, só isso. Precisava, no entanto, de uma caneta e uma folha para dar o primeiro passo para o céu.

Só assim se sentia um pouco melhor.

sexta-feira, 24 de janeiro de 2014

Tão simples

Perdão. Ele é bom sim, é verdade. Mas, sabe... têm coisas que devem ir e vir seja lá como Deus quiser! Não se pode pensar muito nestas horas: o perdão é tão natural quanto acenar com a cabeça um sim ou um não. Por isso, para que forçar uma situação, se dentro de você ela já se encontra mais do que resolvida?

Não. Não dá. Não se pode forçar nada. A vida é tão mais bonita quando de olhos fechados vemos a realidade como ela realmente é! Então... que sejamos ligeiros o bastante para saber que a felicidade é a coisa mais natural do mundo. E ela nunca precisou perdoar e ser perdoada para deixar de sê-la... assim... tão simples!

sábado, 18 de janeiro de 2014

?

"Não liga, não liga. Tudo é besteira".

- Tá bom então.

Se tudo é besteira, somos feitos de besteira também? Somos feitos de quê? Só de carne e osso?

- Não.

Somos feitos de sentimentos: de amor, de felicidade, de tristeza, de solidão, de amargura, de compaixão... nos derretemos como manteiga também. E choramos rios de lágrimas. Somos feitos de gente, sim. Somos oscilações oscilantes em um instante qualquer...

Por isso, cansei de ouvir superficialidades. Cansei de ouvir "esquece isso", "esquece aquilo". Não quero. Eu quero encarar as coisas. Não quero deixar tudo pra lá, porque tudo faz parte de um mesmo espaço, afinal, quem disse que há cobertura quando há o céu? Vivemos ao ar livre, somos bichos, somos animais. Precisamos de natureza. Precisamos latir de vez em quando. Precisamos dizer não aos "nãos" da vida. Não quero ser taxada de intransigente pro resto da vida: quero voar tão quanto uma linda borboleta, cujo brilho colorido é tão transparente quanto a felicidade que palpita o coração distraído.

Meus dizeres não se limitam à escrita. Parte do que digo, acredite, é instigada pela minha criatividade. A outra parte, todavia, é aquela oriunda do meu coração, - que só se faz sentir quem realmente ouvir meu grito.

- Entendeu?

segunda-feira, 13 de janeiro de 2014

Só Por Deus

Pisei no chão, olhei no espelho, hesitei, balancei a cabeça, hesitei de novo, quando deparei olhando para fora da janela, de repente. E tive aquela vontade de voar, voar bem, bem alto e não perder o voo da liberdade por nada e por ninguém. Só por Deus.

domingo, 5 de janeiro de 2014

Filhota, filhotinha é

Tenho um certo peso na consciência por não ser quem eu deveria ser: uma filha melhor. É verdade que sempre pendemos para um lado nas relações, e amor de filha não é diferente. Não vou, entretanto, revelar minhas preferências relativas aos entes familiares... mas podia ser uma pessoa melhor. Sou, muitas vezes, injusta, mas o amor é justo? Difícil saber para quem anda pela primeira vez nesses trilhos... Mas, certas coisas não se escolhem, não é mesmo?

É... não podemos escolher tudo. No entanto, eu sei muito bem que existem certas coisas que não podem mudar, pois se mudarem, eu sei que me depararia, cedo ou tarde da noite, com minha própria caveira. Refiro-me à essência do amor que construí com certas pessoas ao longo dos tempos. Amores sólidos que me fortalecem mesmo quando me sinto insossa, vazia, deprimente. Oras... mas, se são amores sólidos esses, por que temer? Porque eu temo não amar quem eu sempre quero amar... da MESMA forma. Da mesmíssima forma que sempre amei. 

Por isso, o brilho dos meus olhos pode até mudar de horas em horas, ou quem sabe, esses meus olhos não se tornem mais leves que a consternação da intensidade dos pensamentos que vigoram incessantemente em minha mente!?!

Só não quero mesmo é deixar de ser a filhota que sempre quis ser a filhinha de papai cheia de amores únicos e invariáveis pelas mesmas pessoas. E sempre por elas.