segunda-feira, 15 de abril de 2013

Meu vizinho, uma crônica

Admirava o homem que ficava sentado na sala de jantar e ficava lá, por horas, fazendo alguma coisa que não sabia. Era meu vizinho, do prédio da frente. Ficava ali, olhando para baixo, todo compenetrado, esbanjando leniência em seus atos mais minuciosos, naturais e tão casuais. Não conseguia identificar o que fazia. Só tinha certeza de que gostava de assistir àquele homem, que, porventura, não me era estranho: o tempo, para ele, não parecia passar nunca, assim como para mim.
Gostava de fazer as coisas sem me preocupar com as horas, e, aquele homem, tão sutilmente, me deixava calma, paciente. Livre de quaisquer obrigações casuais, rotineiras, cansativas. Não gostava desse jogo diário. Gostava mesmo era de apreciar uma paisagem, desfrutar da sensação de liberdade e livre arbítrio... Sim, gostava de brisar. Se bem que sempre ventei minha vida inteira - sempre fui muito intensa em tudo que fazia, por isso, a magnitude e simplicidade daquela cena me faziam refletir sobre várias coisas. O que é o tempo? Por que somos tão apegados ao tempo?
Não sabia... só tinha convicção que o tempo nada era diante de pequenos momentos que nos fazem valer a vida inteira.
E assim como você, meu caro, espero que alguém esteja me observando.

terça-feira, 9 de abril de 2013

A Sociedade Capitalista e o consumismo exacerbado: Reflexos do Pós-Modernismo


Por Juliana El Taouil Azar

Ritmo desfrenético. Isso mesmo. Vivemos em um mundo cada vez mais ritmado, limitado, estreito. Nossas vidas são pautadas por um cronômetro, em que o tempo é cada vez menor para realizar nossas atividades cotidianas, como acordar, tomar café, atravessar o trânsito das cidades, ir ao trabalho, almoçar, pegar o metrô em horários de pico, voltar para casa e, em poucos instantes, retornar para a cama para trabalhar cedo no dia seguinte. Esse é o ciclo rotineiro da grande maioria das pessoas, que, cada vez mais, são engolidas pelos tempos do Pós-Modernismo.
A era Pós-Moderna, em percurso desde as últimas décadas, estabelece padrões de vida cada vez mais hegemônicos e homogêneos, ou seja, procura enquadrar os indivíduos em uma sociedade cada vez mais capitalista, onde cada pessoa deve ingressar ao sistema vigente, no intuito da sobrevivência e da não-excludência. Por isso da mesmice que tanto norteia a vida dos habitantes - é preciso trabalhar cada vez mais, para se ter um poder aquisitivo maior e, por conseguinte, melhor qualidade de vida, estereotipada pelo consumismo exacerbado. O problema que reside, no entanto, da obsessão por mais capital e consumo, em um mercado cada vez mais acirrado, são os arquétipos veiculados pela sociedade marquetesca do que seria uma vida ideal. As pessoas querem ter cada vez mais, esquecendo-se, entretanto, de sua essência e de seus valores humanos.
Em meio à essa perda de identidade, de valores, cada indivíduo é considerado "mais um" no mundo. A era Pós-Moderna tem como uma de suas principais características a perda da originalidade, personalidade intrínseca a cada ser. Todos são iguais, devem ter as mesmas coisas, consumir os mesmos produtos, e em meio a tantos slogans e propagandas, a bagagem cultural e capacidade cognitiva das pessoas é anulada pela necessidade de se ter cada vez mais. E, para se ter, é necessário fazer, trabalhar desfreneticamente, ter um bom emprego para consumir mercadorias de interesse pessoal e/ou alheios.
As questões que perduram, talvez, diante desses fatos, são: "quem somos", "o que realmente viemos buscar em um mundo tão vasto e contraditório?" Hoje, e desde sempre, se fazem necessários momentos de introspecção, nos quais podemos pensar e refletir sobre nossas vidas e sobre o que realmente buscamos. Afinal de contas, de que adianta termos e consumirmos cada vez mais se não sabemos o por quê de estarmos atrelados à um sistema, que em termos, é tão condenatório e impositivo? Cadê a divergência e pluralidade de pensamentos? Será que a personalidade de cada um deixou de ser elemento importante da formação e constituição humana?
Nós, seres humanos, devemos, pois, procurar caminhos que nos guiem no mundo capitalista, tão integrante, mas ao mesmo tempo, tão excludente. A meditação, ou atividades de cunho espiritual, são essenciais e se fazem imprescindíveis como momentos de indagação sobre quem somos, o que se passa a nossa volta e o que realmente queremos. Dessa forma, deixaremos de ser apenas conduzidos, "mais um" e passaremos a ser alguém que pensa de fato.