domingo, 16 de junho de 2013

O Mendigo André

Por Juliana Taouil
Conheci André com 13 anos. Era o mendigo mais popular da Avenida Jurema, para não falar de Moema. Nesse canto da zona sul, André vagava para lá e para cá com seu bigodinho sujo e bem característico de seu rosto. André era baixinho, pretinho, falava gaguejando, cuspindo. Era engraçado. Parecia de bem com a vida, mesmo morando na rua.
Lá na Avenida Jurema, em cujas calçadas árvores diversas adornavam o cenário, tinha o supermercado referência de moema: Emporium São Paulo. E bem ao lado do supermercado, tinha o Marildo Cabeleireiros, cujo dono era de mesmo nome. Exatamente nessa área, nesse quarteirão que o mendigo André mendigava seus dias, conversava com quem passava, sempre segurando um saco de lixo na mão direita e coçando o pau com a esquerda. André era demais. Falava sozinho, mesmo sendo para lá de "extrovertido" e engraçado.
Passei parte de minha adolescência observando o que o pobre do André fazia em Jurema, afinal, como morava (e ainda moro) na Avenida Jandira, que, por sinal, é pertíssimo da Jurema, ia à pé para lá para fazer compras no mercado. E sim: André sempre estava lá, vagando, com seu bigodinho e seu saco de lixo, falando com Deus e com o mundo. Falando asneiras, baboseiras. Sorrindo um sorriso banguelo, cheio de felicidade. Felicidade de pobre. Um sorriso que contagiava os que já o conheciam, inclusive o barbeiro Marildo, que, um dia, pegou André à força para cortar-lhe a cabeleira suja e cheia de piolhos. Pois não é que o mendigo era pop naquela zona nobre da Grande São Paulo?
André certamente era o mendigo mais popular e carismático de Jurema. André era uma figuraça já! Até o dono do Emporium São Paulo já brincava com ele, chamando-o de "gostosão"! Quem diria, ou melhor, onde já se viu um mendigo causar tanto? Nunca vi... e há muito não vejo. André desaparecera há dois anos. Nunca mais pude ver aquele que tanto foi motivo de risada, de zombação. Afinal, adorava assistir ao André e às coisas que ele fazia. Ele era motivo de alegria. Pelo menos, aos moradores de Moema que o viam, o conheciam e já haviam trocado alguma palavra com ele um dia, porque aquele mendigo era cheio-de-graça, sempre com sorriso estampado no rosto desgraçado.
Ah, como sentia falta dele! Quando vou ao supermercado, não o vejo mais. Aquela rua simplesmente se desalmou. Desamei-a. Porque antes, eu amava aquele canto de Moema, amava ver o André, fazer compras era meu hobby! Mas, hoje... hoje é por acaso. Por acaso faço compras, passo por ali. Aquele lugar ficou indiferente a mim. Não vejo mais graça. Às vezes, dá a impressão de que até o Emporium São Paulo perdeu grande parte da clientela da época do mendigão. Parece que as calçadas ficaram mais vazias. Nunca mais veria a cena do dono do Marildo Cabeleireiros puxar o André para um corte de cabelo. Foi épico!
Se bem que esses dias, por acaso, estava indo ao Emporium São Paulo, quando me deparei com André brincando com um cachorrinho na frente do supermercado. Meu coração disparou! Saudades daquele homem! Onde andava? Não tive tempo para mais nada, coloquei meu braço sobre seu ombro e sussurei:
- Ah, que saudades, André!


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