sexta-feira, 25 de setembro de 2015

Despidos de amor

Hoje, ao levantar, me senti pronta. Mesmo com sono, dei o primeiro passo: agradeci a Deus por mais um dia, por mais uma oportunidade. Era de coração, pois alimentava minha alma e meu espírito de esperança. Sentia uma vibração em tudo que via à minha volta - desde as pequeninas folhas rasgadas à mais bela borboleta amarela que aparecia pelo meu quintal, esbanjando um voo cheio de vitalidade. Gostava das borboletas amarelas: sua cor, além de ser da tonalidade do sol, representava a alta conexão mental com o plano divino. Até porque a cor amarela simbolizava a reflexão linear; o raciocínio de uma forma criativa. E a borboleta, por mais pequena que fosse, me transmitia criatividade e acolhimento assim como a mais forte e calorosa penetração de um raio solar sob a pele.

Tudo, afinal de contas, estava interconectado: nós não vivemos mera e casualmente uma vida qualquer. Nós não vivemos ao acaso; nós vivemos todos juntos, embora nossas mãos ainda estejam separadas pelos muros colossais concebidos pelo julgamento incessante do outro. E quem era o outro, afinal de contas? O outro era a borboleta amarela, a formiga, a planta adoecida pela falta de chuva. O teu próximo era toda a humanidade. E a humanidade abarcava todos os seres, mesmo os inanimados como as rochas de lindas praias paradisíacas. Mesmo, ainda, aquele bichinho de pelúcia que você cultivava na sua infância por longos e extensos anos.

Você, um dia, já foi uma criança: já acreditou em um mundo de sonhos e fantasias, rodeado de anjos, de bruxas, de fadas madrinhas. E agora, já crescido, você vive uma vida sustentada pela concretude das coisas. Seu mundo, se antes colorido à la Faber Castell em 120 tons, hoje é descartado como uma simples folha de papel rabiscada à caneta. Não havia mais encanto em sua vida. E toda aquela ingenuidade, que outrora você tinha quando garoto, deixou de existir pela simples conversão da magia em loteria. 

Sim, magia em loteria, já que, quase sempre, subordinamos nosso ser, corpo, mente e espírito às necessidades materiais, condicionadas pelo poderio proporcionado por um maior número de bens. Assim, ao invés de ajudarmos ao outro e a nós mesmos, por meio de práticas de autoconhecimento e valorização de toda a forma de vida, ansiamos por estar a frente de alguém; ser melhor do que outro indivíduo. Sim, outro indivíduo. Porque, ao meu ver, a palavra ser humano já não mais faz sentido em uma sociedade que perdeu a fé na humanidade. E hoje não mais uma borboleta ganha visibilidade, mas a quantidade de animais que conseguimos predar.

Mas, apesar dos pesares, eu continuo acreditando em tudo que sinto. Eu continuo tendo fé na humanidade, porque eu me encontrei e encontrei sentido em minha vida. E é por isso mesmo que agradeço todos os dias à Deus pela oportunidade de compartilhar. Pela chance de comungar com o outro tudo que faz parte de mim e tudo que alimenta a natureza. Pois, no final das contas, somos todos um.

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